A designação teia de Penélope, dada a qualquer trabalho que nunca mais está pronto, tem origem no procedimento astuto e exemplar de Penélope, mulher de Ulisses, rei de Ítaca, que levou vinte anos a esperá-lo, mesmo depois de todos o julgarem morto.
(Ulisses é um dos personagens da Odisseia, um dos mais eloquentes poemas épicos, a par da Ilíada, ambos atribuídos a Homero. A Odisseia relata o regresso do herói grego à sua terra natal, depois de ter participado na Guerra de Tróia).
É curioso, no entanto, que a teia de Penélope foi tomada no sentido pejorativo, por alguma propaganda religiosa, em tempos não muito recuados, servindo para classificar a inacção de mulher mandriona e desregrada:
– Penélope, eis o apodo
com que me alcunham, amiga…
Porque razão de uma figa
me alcunharão desse modo?
– Porque esse vida, mulher,
perdoa-me que te diga,
é tecer e destecer…
Aproveitamento maldoso, pois que, exactamente o tecer e destecer de Penélope deveria ser tido, ao contrário, como o mais digno exemplo de constância e perseverança da vida e fidelidade conjugal. Apesar de todos afirmarem que Ulisses morrera em qualquer uma, das muitas, provações que passou no regresso a Ítaca, Penélope nunca se dispôs a acreditar na sua viuvez. Confiante, aguardou sempre com uma inquebrantável crença que ele acabaria por regressar.
E os anos foram passando.
Em face dos numerosos pretendentes à sua mão, e tentando esquivar-se às imposições do reino, declarou que, segundo um voto que fizera, escolheria noivo logo que tivesse concluído uma teia que tinha no seu tear. O certo é que, embora ela trabalhasse afanosamente de sol a sol, a teia nunca mais chegava ao fim, visto que, durante a noite, desmanchava o trabalho feito durante o dia.E, assim, levou vinte anos até que o marido bem amado, considerado morto, chegou a Ítaca são e salvo.
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(mais corre quem mais imagina que mais mais caminha)
a astuta vitória do amor sobre o tempo e o bom senso…
sempre gostei deste amor de fazer e desfazer para o obter…
muito (e)terno.
beijos
luísa
Assim como "en passant" diria que:
…a tal teia só podia ser tecida (e destecida) por uma Penélope…coisas de "constância e perseverança da vida e fidelidade conjugal"…rsrs
Abraço de Paz!!
As chamadas obras de StªIngrácia na versão helénica e chique.
Por aqui se constata que a não poder igualar-se (a perseverança de Penelope)há que difamar (actualissimo!)
(O que levaría a um outro dito…estão verdes não prestam, e que em definitivo não pertence a este belissimo trecho)
Ainda bem que ela não esperou em vão, pois pelos vistos ele viu-se grego para voltar a casa!
Como sempre excelente!
Um abraço
A mim cheira-me a um pouquinho de submissão a mais!Lembro o Chico Buarque:
“Mirem-se no exemplo
daquelas mulheres de Atenas…”
(Tinha de haver aqui uma voz dissonante, senão não tinah graça nenhuma:)) )
A história está magistralmente contada – como sempre, TP!
Por acaso só conhecia a conotação positiva! :-))
Abraço
excelente descrição (de uma expressão que desconhecia) e grande exemplo de Penélope
Conhecia a lenda, mas foi bom relembrar.
Um abraço e votos de uma óptima semana.
Um bom lembrar das boníssimas intenções por detrás do tece e destece de uma mulher que – assim reza a história – soube tecê-las! Certo dia também a evoquei lá para as bandas das minhas meio-escritas virtuais. Porque o tema das esperas me é grato, de apenas “desempatável” por quem a elas se dedica ou por elas se decide, de entre o ser avanço ou recuo, acção ou inacção, perda ou ganho, viver ou desviver. É um bom tema. E a persistência também. E a fé nos afectos e a vitória deles. Haveríamos todos de ter feito uma incursão pela Odisseia na escola, pelo menos. E depois fora dela, quando já sabemos ler com a alma.
A imagem é um luxo!
Je t’embrasse
Σας αγκαλιάζω
Um exemplo de dedicação, amor e fidelidade.Nunca entendi a teia de Penélope de outra maneira e a vida, assim tecida, tem outro sabor.
Um abraço fraterno
Uma linda narrativa…
Eram tempos da “Odisséia”, meu amigo. Distantes e míticos tempos…
Hoje as Penélopes já nem tecem mais tapeçarias e os Ulisses acabam sempre rendendo-se ao canto das sereias e ficam pelo caminho…
Um abraço
Não conhecia o sentido negativo. Fico-me com a ideia de longa espera…beijos.
Não conhecia este ditado «mais corre quem mais inagina que quem mais caminha»?
Verdade verdadinha!
Nunca tinha pensado no aproveitamento negativo desta história. Ou seja, mesmo conhecendo o tema, sempre descubro aqui novas leituras. Um gosto vir aqui.
:))
…Só conhecia a parte bela da história… vou fazer de conta q ñ tem esse lado “negativo”.
Tem de haver sempre alguém p estragar!….
😉
Ah esta lenda já eu conhecia 🙂
e a foto acima está bem elucidativa
todos a cortejam
mas a ela só o tear a cativa…
Vinte anos é muito tempo
mas como “mais corre quem mais imagina”no tear, o fazer e desfazer
está no gosto de “que quem mais caminha”e o tempo da teia é relativo…
eu não sabia do termo pejorativo 🙁
Bom fim de semana
Beijinhos enliados numa teia com abraços enfeitados
Resta-me um comentário (viperino, evidentemente).
Esse Ulisses que regressou ao fim de 20 anos, era o mesmo que tinha partido?
Ou… na noite anterior, Penélope esquecera-se de desmanchar a teia que havia tecido durante o dia?