Estar de candeias às avessas, é dizer andar aborrecido, amuado, zangado, aferroado, enxofrado ou, como se diz mais vulgarmente lá para as minhas bandas, embezerrado com alguém. Ou, tão simplesmente, estar em contradição, em oposição.
Ora, qual será a origem da expressão?…
Provavelmente talvez esteja no antigo uso de se alumiar os passos às visitas da casa, quer à chegada, quer à saída. Se a luz da candeia não fosse bem aproveitada (bem orientada, melhor dito) as visitas, desconhecendo as particularidades do caminho, poderiam tropeçar e cair. Usa-se até dizer-se candeia que vai adiante, alumia duas vezes.
Deste modo, não pôr a candeia às direitas, isto é, na posição necessária ao seguro caminhar das visitas, seria mostrar desleixo, se não mesmo, em alguns casos que para aqui não são chamados, alguma perversidade… Logo, se a visita tropeçou ou chegou a cair, foi porque lhe puseram a candeia às avessas, estupidamente ou com o propósito de a molestarem.
Será esta a origem da locução?…
O dr. Castro Lopes, estudioso das origens das palavras, ditos e mais brocardos, tem outra teoria, e diz a este respeito:
‘Concordam todos os etimólogos em que as palavras portuguesas – avesso, às avessas – são transformações do vocábulo latino aversus (que significa contrário, oposto). E isso é incontroverso. Partindo desta base, nada mais natural do que admitir que a corrupção da pronúncia latina e a prolação macarrónica da frase Cum deis aversis (com os deuses contrários, não propícios) tivessem sonância imitativa das palavras engendrando a burlesca locução popular candeias às avessas; tanto mais, quanto a frase latina, cum deis aversis significa, exactamente, ficar sob a influência de deuses, ou sortes, adversas.’
Mas a discussão está longe de ser pacífica. Outro filólogo afirma que a expressão candeias às avessas, nunca se corrompeu. Sugere então que ‘um indivíduo, principiando a zangar-se, vai-se enchendo de azeite, como qualquer candeia, de tal forma que aqueles que o observam, foram criando um outro dito, dizendo que o homem está com os azeites.
Bem depressa se entorna o azeite, caindo o furioso sobre as vítimas que não fugiram a tempo, tal como se tratasse de uma candeia que se tivesse voltado às avessas. É aqui que se diz que está de candeias às avessas’.
E, já agora, por que razão a cólera, ou os maus fígados, de má bílis como se também diz, se chama azeite? ‘Arriscarei a seguinte hipótese:’ continua o filólogo, ‘o azeite desagrada ao tacto, ao cheiro e, em algumas circunstâncias, até à vista e, sobretudo, tem propriedades laxativas. O homem encolerizado, fora de si, causa medo, o que também é laxativo. Acresce que a bílis contém matérias graxas, entre elas a oleína e apresenta, realmente, um aspecto oleoso’. Será?…
Parece que o debate não fica por aqui. Mas fico eu, enquanto se espera por mais achegas à questão sobre a origem desta curiosa locução popular.
Mesmo que em alguns locais onde nos poderíamos iluminar acerca desta e doutras matérias, haja quem, por burocracite aguda, por vezes, me deixe de candeias às avessas…
Acabo com duas citações de referência: ‘Não há piedade que, por si só, não seja santa nem boa; porém eu vos direi: ando de candeias às avessas com a gente que agora se acostuma’, escreveu D. Francisco Manuel de Melo, nos seus Apólogos Dialogais.
‘Pois então vá com Nossa Senhora, que eu estou de candeias às avessas’, escreveu Camilo no seu Amor de Perdição.
E vai-se a ver, se calhar, a verdade é que estou com os azeites, exactamente por isto aqui estar uma… perdição!

Venho pouco, mas sempre que venho encontro textos que me agradam e que me ensinam coisas.
E neste Inverno/Natal/frio a candeia soube tão bem…!
Bom Natal e melhor ano que o anterior.
Baila sem peso
Encandeia em cadeia cada verso que por aqui vais deixando. Essa é que é essa!…
Talento que não teme meça!
abraços!
Isamar
Dizes muito bem, dizes muito bem: 'azeites ferventes'…
(faz-me lembrar aquela cena inesquecível da Laura Alves, no 'Costa do Castelo':'ai a loiça!, ai a loiça!')!
abraços!
Justine
Estás?! Estamos, estamos!…
Parece que estou a ver um filme requentado dos anos vinte…
abraços!
MagyMay
Também não deixas de ter razão com essa do 'anda tudo iluminado'…
Nós é que andamos ceguinhos com tamanha iluminação!
abraços!
leonor
Escuro e bem escuro, amiga!…
abraços!
mdsol
Também não pensava isso, amiga! Sempre que possas é um prazer saber-te por aqui.
abraços!
gaivota
Faço votos que assim seja, amiga!
abraços!
Rosa dos Ventos
Tomara que, especialmente este, não fosse tão oportuno assim…
Obrigado.
abraços!
Idun
Espero que, por esta altura, já estejas bem melhor e que à dona não apoquente o teu estado. Oxalá!
E agradeço, claro, o brinde e, já agora, o rifão (que não conhecia!) bem a propósito. Um festinha para ti. Para a dona…
abraços!
a outros, que por aqui passam…
obrigado!
tinta permanente
com os azeites também nós andamos mas dizer porquê dava pano para mangas.
a Humana ausente e alguns sobressaltos,relacionados com a minha saúde, impediram-nos de, atempadamente, virmos aqui deixar os parabéns pelo aniversário do blog.
mas ergo a minha taça e bebo à saúde do autor do blog, agradecendo tudo o que nos tem proporcionado. lembro ainda que " meia vida é a candeia e o vinho outra meia".
marradinhas amistosas da bicharada do "pequeno jardim" e um abraço da Humana.
Todas as explicações são plausíveis…
Ainda não tinha concluido a leitura quando me lembrei da expressão que usas no final – "estar com os azeites".
Sempre oportunos os teus posts…
Abraço
mesmo às avessas, seguiremos iluminados…indo mais ou menos à frente, com o azeite entornado…
beijinhos
Muito muito oportuno. Sempre muito bom.
[Entretanto, eu não ando de candeias às avessas com este blog. Muito pelo contrário. Ando é com falta de tempo…]
Sempre um gosto vir por aqui.
Então eu acho que candeia às avessas é ficarmos virados do avesso e a candeia somos nós: fica tudo escuro quando estamos do avesso.
😛
Estar com os azeites não gosto… tenho frágil fígado!
Andar de candeias às avessas dava-me jeito mas… anda tudo "iluminado"!
Escolho, candeia que vai a frente ilumina duas vezes… e vou "ter custos"!
Abraço, Abraço!!!!
Nada mais a propósito, que esta locução popular que escolheste para o teu post: creio que neste momento andamos quase todos de candeias às avessas com o poder deste país, que apenas sabe trair, adiar, manipular,corromper em todos os sentidos. Estou mesmo com os azeites, amigo!
Mas não é contigo:)) Um abraço amigo
E a vida anda de tal maneira que não é caso para admirar se andarmos todos com os azeites ferventes derramados.
Por aqui não se passa em vão, caro amigo. Mesmo de candeias às avessas iluminas-nos cada vez mais.
Bem-hajas!
Um abraço
E gostei desta descrição
Que a ninguém engana…
…e de candeias às avessas
Por mor, de amor de perdição
João…alvejado no coração
…sem mais ver Mariana…
E a Senhora, é luz que alumia
Quem nela criar afeição!
(ah, tanto que lá vai de tempo…
voltar a ler Camilo, pois então!):)
E entre o cravo e a rosa
Da Condessa d`Aridão
Coloco eu aqui saudosa
A lagrimita do coração
De menina, andar na roda
De tempos, que já lá vão…
Cadenciada roda, voltas e voltinhas
Que dávamos, meninos e meninas!
Mas andas com os azeites tinta permanente?
Oh, vê lá hem…que seja com a outra gente!!!
Que isto é bem verdade de entender…
Candeia às avessas…meio mundo a sofrer
Qualquer sentido de moral, comum mortal
Trará o azeite, a escorrer de seu bornal!
Fora as avessas da candeia
Adormeci vezes, em menina
No seio de uma aldeia
Com luz de abençoada ceia!
E vou com a luz não da candeia
mas da tua prosa que enleia
beijo que (en)candeia :)))))