em linha

Do outro lado da vereda que segue a traseira da minha casa, é o campo de cultivo do senhor Inácio, com quem às vezes debulho agradáveis palraduras.
Um destes dias dei comigo a matutar sobre os donos que, antes dele, também ali semearam milho, abóboras, centeio, batata, cebolo, tomate, couve e feijão, ou apenas afagaram o feno para sustento do gado.
Provavelmente aquela leira, aquela terra, já era sulcada e sachada há quatro mil anos. Imaginemos se todos os agricultores que aí semearam e colheram, viessem fazer uma visita ao senhor Inácio. Assim, feitas as contas de grosso modo, estaríamos a falar de umas cem, cento e cinquenta pessoas. Uma imediata evidência seria ficarmos presos ao modo tão diferente de se vestirem e de muitos, muitos mesmo, não serem capazes de entender uma só palavra, de tanto que se foi alterando a língua através dos anos.
Uma ideia, no entanto, assarapolhou a minha imaginação: se os dispuséssemos em linha, cada um perto do outro, começando pelo primeiro dono, passando ao segundo, depois o terceiro e assim por diante até ao senhor Inácio, a conversa podia ser seguida ao longo de toda a fila, poderíamos ouvir contar histórias e vidas de um extremo ao outro. Além dessa brutal e incomensurável visão da História, certamente que todo o comprimento da linha ficaria envolto numa onda de fresca jovialidade à medida que o relato passasse de homem para homem, ali mesmo,
através dos séculos.


vou plantar nabos

Gosto de cactos. Precisava de transplantar alguns e, por isso, resolvi comprar umas luvas (quem já encostou um dedo que seja a um cacto, sabe do que falo…).
Fui a uma dessas modernaças superfícies que vende tudo e mais alguma coisa e de lá vim com uma embalagem de plástico endurecido, transparente, onde se podia vislumbrar um par das ditas, todas supimpas! Ao chegar a casa, aberta a embalagem, reparei num folheto que estava cuidadosamente dobrado entre as luvas. Escrito em inglês, francês, espanhol, italiano, alemão, croata, russo, árabe, afrikaans, norueguês, holandês, ucraniano e esloveno. Optei pelo inglês…

Se estivesse, também, escrito em português (mesmo que fosse em português do Brasil, ou lá o que isso seja…), diria:
Estas luvas foram certificadas para sua protecção. Para o seu uso correcto deve consultar a ficha técnica nº 22H1R1GB/FT/ da última versão em vigor. A marcação CE significa que estas luvas estão de acordo com as exigências fundamentais da directiva europeia CEE/19/886, modificada pela directiva CEE/21/32 relativa aos equipamentos de protecção individual submetidos a autocertificação EM648, conforme exemplo do sistema de pictogramas que simboliza os seus desempenhos e que podem vir acompanhados de números que representam os vários níveis de desempenho de 1 a 4 ou 5 para os níveis mais altos sendo que também o 0 ou X representam ausência de protecção, sendo assim teste não realizado ou nível não atingido os números que…
ALTO LÁ!… Já transplantei os cactos!