(Zé Povinho, pintura de Rafael Bordalo Pinheiro)
Para cada ocasião
tenha um provérbio sempre à mão
Costuma dizer-se (é lugar-comum dizer-se) que os provérbios, ou os adágios, são a sabedoria do povo (a verdade é que, aqui mesmo, algumas pessoas amigas, corroboram isso nos seus comentários) e que, acrescenta a vox populi, ditados velhos são mesmo evangelhos.
No entanto, creio dever usar-se uma certa cautela nesta generalização já que muitos dos adágios que compõem o vasto rifoneiro português pouco devem à sabedoria e muito lhes sobra, por exemplo, das conveniências sociais, religiosas e políticas dominantes, através dos tempos. A linguagem dos provérbios, dos ditados, dos lugares-comuns e, naturalmente, dos conceitos e preceitos que lhes estavam subjacentes, por vezes, não passavam de formas encapotadas de disseminar interesses obscurantistas, do mais variado cariz, visando a submissão e a aceitação de regras bem definidas. Por outro lado há, igualmente, outras fontes e razões para o surgimento dos adágios que, pelo tempo, se lhes perderam as origens e, por isso, o seu verdadeiro sentido hoje nos aparece distorcido.
Ainda, por fim, e não menos importante, há que considerar a parcela de ironia, brejeirice e sandice que está na raiz de muitos aforismos e ditos populares.
Isto para concluir que, provérbios, rifões ou ditados, não são, de facto, a sabedoria do povo. Afinal são mais do que isso: são o próprio povo.
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