Os jogos têm, também, várias condicionantes sejam elas, por exemplo, para crianças ou para adolescentes que, se já diferem, com certeza mais diferenças consubstanciam os jogos para adultos; também diferem consoante a época do ano e a região a que se lhes agregam determinados ritos ligados ao jogo. Um outro aspecto não menos importante e, porventura, o mais singular e interessante é a associação que muitas vezes é feita com aquilo a que chamamos ladainhas, lengalengas, aranzel, choradeira, algaraviada – ou os anfiguris, como vimos aqui, na última publicação. À primeira vista pode parecer-nos ouvir palavras sem sentido e desprovidas de censo ou de valor. O que é redondamente errado. Elas desempenham, essencialmente, uma ginástica vocálica, por vezes de execução difícil, associando à dinâmica do jogo um certo ritmo e animação, que alicia e entusiasma as crianças.
Bem antigas são, de facto, estas formas de juvenil brincadeira, de tal forma que hoje não passam de recordações já, infelizmente, esfiapadas por lapsos de memória e inexoráveis percas no descaminho do Tempo…
O jogo às escondidas, era talvez, um dos mais populares, já que permitiam ao jogo crianças de ambos os sexos. Antes de se esconderem, procedia-se à escolha dos jogadores que se hão-de livrar. Todos numa fila, sentados no chão, de pernas estendidas, enquanto um deles, começando numa das extremidades, batendo com a mão na bota de cada jogador, ia dizendo:
Sola
sapato
rei
rainha
foi o mar
buscar sardinha
para o filho do juiz
que está preso
pelo nariz
salta a pulga
da balança
dá um salto
até à França
os cavalos
a correrem
as meninas
a aprenderem
qual será a mais bonita
que se irá
esconder?…
Depois de todos se livrarem, claro, que o último irá procurar todos os escondidos; o primeiro a ser achado será o próximo a procurar.
Como disse este é um jogo para rapazes e raparigas, mas, entre outros, lembro um – este, ao tempo, por razões óbvias, só de rapazes – dos mais vulgares da minha velha Primária: o jogo do eixo. Depois das lengalengas para saber quem há-de ficar por baixo (curvado, tronco flectido e a cabeça entre os joelhos), os outros, em linha, atrás uns dos outros, começam a saltar, abrindo bem as pernas e firmando apenas as palmas das mãos nas costas do que faz de eixo. Em cada salto, dizem, seguidamente, a arenga do costume:
ribaldeixo
caramelo ou pau do eixo
uma de alamua
duas batatas cruas
três pulinhos holandeses
(depois de saltar dá três pulinhos com um pé no ar)
quatro, belo arroz

faz o pato
cinco, Maria do brinco
seis, reis
sete, escarrapachete
(dá uma sulipa no rabo do que está debaixo)
oito, biscoito
(torna a dar outra sulipa, agora com mais força)
nove, dá dez reis ao pobre
dez, comichões nos pés
(depois de saltar, faz o gesto de coçar os pés)
onze, bronze
doze, palmada perdoada
(dá ou pode perdoar uma palmada no rabo do que está debaixo)
treze, mais bem dada
(dá uma palmada, agora com força)
catorze, atira o boné
(atira o boné ou o chapéu para a frente e para o chão, no acto de saltar)
quinze, apanhar bonés
(tem de o apanhar com a boca, mas de joelhos, firmando apenas os cotovelos no chão. Se não fizer assim, perde e será ele o próximo a abaixar).
Outros jogos também aqui mereceriam destaque: o jogo da apanha, o jogo do alho, o jogo da cabra-cega, o jogo do bom barqueiro, o jogo do pião, o jogo da bilharda – o meu preferido, o jogo do arrebenta, o jogo do chinquilho, o jogo da malha, o jogo da rolha, o jogo do prego e o jogo da babona, estes dois na praia, tantos, tantos outros…
Talvez que, um dia, a eles voltaremos; entretanto escusam de os procurar nas prateleiras dos centros comerciais: não há nenhum em versão para a PlayStation…
(jogar com pau de dois bicos é perder ambos)