Ora leiam esta: era uma vez um cordeiro
que estava a matar a sede num ribeiro,
quando nisto sentiu, perto dele, um restolho…
Foi a olhar, era um lobo! E viu luzir-lhe o olho,
atrevido e guloso. O cordeiro, coitado,
pôs-se logo a tremer, pudera!, bastante atrapalhado.
E o lobo, lá de cima, esbravejou resoluto:
– Pára lá de beber! Sujas-me a água, bruto.
– Como pode ser isso, o cordeiro responde,
se é daí para cá que a água corre? Aonde
eu estou não poderei turvar-ta!...
O lobo, então, engolindo a resposta em seco, repontão,
acrescentou num berro, arreganhando o dente:
– Se tu não foste, foi o teu pai, certamente!
Mas o cordeiro, alheio à berraria infrene,
virou-se para cima, e disse-lhe a sorrir:
– Ora, ora, vai-te despir.
Essa já eu conheço: é do La Fontaine!…