Março, que é o mês da Primavera, é um mês privilegiado na voz do povo. É o Março marçagão (1):
Março marçagão, manhã de Inverno, tarde de Verão, à noite focinho de cão.
Março marçagão, pela manhã cara de anjo, à noite cara de ladrão.
Março marçagão, manhã de lobo e tarde de borregão.
Março marçagão, manhã de carvão e tarde de Verão.
Março marçagão, de manhã cara de cão, ao meio-dia cara de rainha e à noite corta como a foicinha.
Estes – e são muitos mais – só como o mote de marçagão. O que nos leva, era essa a intenção, a um provérbio muito antigo, de tal monta que já não se encontra referido em qualquer adagiário dos dois últimos séculos. Diz ele ‘Março marçagão, cura meadas e esteiras não’. Conta Teóphilo Braga, que este ditado terá origem neste conto popular:
‘Era uma vez um homem que casou com uma mulher desmazelada, e depois dizia o homem:
– Oh mulher, tu não fias? Tu não trabalhas?
– É um dia santo muito grande, não se pode hoje trabalhar.
Ao outro dia ele perguntou o mesmo, e ela o mesmo respondeu, e ele disse assim:
– Deixa que aí vem o Março, o Marçagão, que to dirá.
– E eu pego numas poucas de esteiras e boto-as no primeiro de Março a corar.
– Ele não quer esteiras, mulher, quer meadas.
O marido na véspera do primeiro de Março pegou num capote muito velho, cobriu-se para se fingir um velho corcovado, e a mulher pela manhã cedo levantou-se e foi por muitas esteiras a corar; e ele apareceu-lhe ali em velho e disse assim:
– Essas são as meadas que tu tens para corar?
– São.
– Então teu marido não te dizia? Espera que eu te falo.
Pega num pau, bateu, bateu até não poder mais e deixou-a por morta. Assim que ela se pode erguer foi para casa. A primeira coisa que mercou na feira foi a roca e foi fiar.
Depois já dizia o homem:
– Então, mulher, era o que eu te dizia ou não?
Março, marçagão, cura meadas, esteiras não.’
(1) – Para responder ao amigo Amorim, ‘marçagão’ não é, de todo, corruptela de ‘morcegão’. Este deriva de morcego, enquanto ‘marçagão’ (ou marcegão) é ‘o mês de Março quando desabrido e áspero’ (dic. Cândido de Figueiredo). Ao contrário, quando sustenta a sua dúvida na provável semelhança entre ‘mercearia’ e ‘marcearia’, tal não existe. Estas duas palavras, por sua vez, subsistem ambas, desde há séculos, embora se tenha modificado o seu uso: marcearia passou a ser absorvida, no seu significado, por mercearia, se bem que durante vários séculos perdurou a diferença: marcearia eram os produtos que se vendiam, mas que não podiam ser medidos ou pesados. Ao dispor, amigo Amorim.
Tens toda a razão! Não há pai para marçagão!…
Acho até que o S. Pedro deve ter sido o Funcionário do Mês!
Do mais, sempre amiga nos elogios.
abraço,
jorge
Melhor – ou pior – que o marçagão tem estado este abrilão, que não mostra um único sorriso na cara!
Não conhecia tantos adágios sobre o marçagão, só o primeiro que indicas e apenas pela metade…
Sempre a aprender contigo, claro!
Obrigado pelo apoio, amiga!
Abraço!
jorge
Sempre interessante e didáctico!
Um abraço