No dia da eleição
O povo todo corria
Gritava a oposição
– Avé-Maria!
Viam-se grupos de gente
Vendendo votos na praça
E a urna dos governistas
Cheia de graça
Uns a outros perguntavam:
— O senhor vota connosco? —
Um chaleira respondeu:
— Este o Senhor é convosco
Eu via duas panelas
Com miúdos de dez bois
Cumprimentei-a, dizendo:
Bendita sois
Os eleitores
Das espadas dos alferes
Chegavam a se esconderem
Entre as mulheres
Os candidatos andavam
Com um ameaço bruto
Pois um voto para eles
É bendito fruto
Um mesário do Governo
Pegava a urna contente
E dizia – Eu me gloreio
Do vosso ventre!
Ámen.
Leandro Gomes de Barros, nasceu em Paraíba em 1865 e é considerado o maior escritor brasileiro da literatura de cordel (no Brasil mais conhecida por folheto ou, simplesmente, cordel), introduzida no Brasil pelos portugueses, desde os primórdios da colonização. A característica fundamente deste tipo de literatura é, por um lado a questão central vir a ser resolvida através da argúcia e a destreza para atingir o objectivo, outrossim o imaginário feudal europeu, povoado de duques, cavaleiros, damas e castelos, onde o herói sofre desgraças e martírios, fiel ao rei ou ao amor à volta de intrigas, dificuldades e traições que dificultam o feliz final junto do rei ou da mulher amada. Ao longo dos anos adaptada às mudanças sociais, sempre manteve o ponto comum da consagração do herói e a humilhação dos opositores.
A Ave-Maria da Eleição foi escrito em 1916. De brasileiro para brasileiros.
Não tem, por isso, qualquer semelhança, no tempo e com portugueses.

8 comentários sobre “oração (de cordel)”
(actualmente os comentários estão encerrados)
Evidentemente que não, Justine!…
Abraço.
jorge
E o que mais se verá, amiga.
Abraço.
jorge
Uma Confissão talvez não fosse má ideia…
Abraço.
jorge
Como se vê isto de eleições é uma fé antiga!…
Volta, Teresa, vai haver mais.
Abraço.
jorge
Uma delícia! E claro que não tem nada a ver com o tempo e com os portugueses!!!
E é verdade que lá veio a eleição de cordel!
Espero que ninguém queria rezar o credo, meu amigo!
Grande abraço
As coisas que tu desencantas!… 🙂
A foto está um primor.
Sempre um prazer ler-te!
Abraço.