vou plantar nabos

Gosto de cactos. Precisava de transplantar alguns e, por isso, resolvi comprar umas luvas (quem já encostou um dedo que seja a um cacto, sabe do que falo…).
Fui a uma dessas modernaças superfícies que vende tudo e mais alguma coisa e de lá vim com uma embalagem de plástico endurecido, transparente, onde se podia vislumbrar um par das ditas, todas supimpas! Ao chegar a casa, aberta a embalagem, reparei num folheto que estava cuidadosamente dobrado entre as luvas. Escrito em inglês, francês, espanhol, italiano, alemão, croata, russo, árabe, afrikaans, norueguês, holandês, ucraniano e esloveno. Optei pelo inglês…

Se estivesse, também, escrito em português (mesmo que fosse em português do Brasil, ou lá o que isso seja…), diria:
Estas luvas foram certificadas para sua protecção. Para o seu uso correcto deve consultar a ficha técnica nº 22H1R1GB/FT/ da última versão em vigor. A marcação CE significa que estas luvas estão de acordo com as exigências fundamentais da directiva europeia CEE/19/886, modificada pela directiva CEE/21/32 relativa aos equipamentos de protecção individual submetidos a autocertificação EM648, conforme exemplo do sistema de pictogramas que simboliza os seus desempenhos e que podem vir acompanhados de números que representam os vários níveis de desempenho de 1 a 4 ou 5 para os níveis mais altos sendo que também o 0 ou X representam ausência de protecção, sendo assim teste não realizado ou nível não atingido os números que…
ALTO LÁ!… Já transplantei os cactos!

sayonara

De todas as enunciações de despedida que já ouvi, a da língua japonesa é a mais bela, mais profunda e, especialmente, mais intensa.
O alemão auf wiedersehen, o au revoir e à bientôt, mesmo que dito pela Brigitte Bardot, o arrivederci italiano ou o inglês goodbye (que, na verdade, é uma corruptela de God be with youDeus esteja contigo ou te acompanhe), exemplos que se repetem em tantas outras línguas, não oferecem nenhum consolo para a mágoa ou dor na separação ou para aquele afogo, não da ausência, mas da vontade da presença.
O italiano ciao, que serve a chegada e a partida, reveste-se de nada, pouco menos do hebraico shalon (paz), do árabe mae es-salaam (vá em paz). O nosso passe bem é aceptico tal como o farewell do Shakespeare.
Sayonara não carrega dor nem estimula esperança. Não exprime inconformidade com a partida, não augura protecção divina na viagem, nem reprime ânsias de regresso.
Apenas aceita um facto. Todas as emoções contidas se contraem na compreensão do acontecimento. Porventura, sublima-se no adeus mudo que se manifesta na pressão de mãos amigas.

Já que tem de ser assim, é a tradução de sayonara.