A chegada do comboio, faz este mês exactamente 120 anos, à Porcalhota desenvolveu a povoação e fez com que, em 1907, e por vontade da população, ocorresse a mudança do seu nome para o actual, Amadora, que provirá da designação de uma quinta ali existente.
A localidade devia a pouco simpática denominação ao facto de nela ter existido uma herdade que, no século XIV, pertencia a um tal Vasco Porcalho. Porcalhota (pretenso diminutivo feminino deste bizarro apelido) seria o nome pelo qual os habitantes da terra tratavam a filha do proprietário e, daí, surgir o nome da terra.
Esta explicação não é, no entanto, defendida por todos. Aquilino Ribeiro, por exemplo, defende que esta designação provém do facto de os donos das quintas das região entregarem a guardadores de animais os seus porcos para aqueles os levarem a comer, exactamente em pastagens próximas dessa aldeia que, assim, passou a ser identificada por Porcalhota.
Há ainda outras convicções que apontam o transporte de géneros alimentícios e materiais de construção para Lisboa, que deixavam a aldeia, então atravessada pela estrada real, toda suja e repleta da mais variada espécie de detritos. Esse local era muito sujo por se situar numa área baixa, para onde corriam as imundícies dos lugarejos mais altos, nos dizeres da época. Por outro lado, há quem garanta que a Porcalhota nada teria a ver com questões de (falta) de higiene, sendo mesmo até um lugarejo bem asseado e limpo.
A versão mais lendária, ao corroborá-lo, baseia-se na pureza e fama da água do chafariz da povoação. Diz a história que, um dia, parou perto da fonte, a carruagem real e um lacaio pediu um copo de água a uma moleira que, na altura, ali enchia um cântaro. A mulher satisfez o pedido mas, naturalmente, o copo levava as marcas da mão da moleira, empoeirada de farinha. O lacaio teria deitado fora o copo, resmungando um ‘olha a porcalhota!’…
Assim, remata a história, nasceu o nome da terra.
Amadora foi elevada a cidade em 1976, deixando o concelho de Oeiras ao qual pertencia desde 1916.
(a pequena escultura de barro é obra do mestre José Franco, de Mafra)

a primeira vez que ouvi o nome achei tão ridículo e injusto!!
mas sim percebo e é ligado à vida. ao dia a dia, como todos os nomes na sua origem.
abraÇo
Gosto destas memórias. Gostei particularmente de que tenha trazido aqui uma obra de José Franco que conheço pessoalmente e de que tenho um antigo S. Francisco esguio e etéreo como aquelas mãos sabem fazer.
Eis um município em que haveria toda a coerência em retornar ao topónimo antigo…
Gostei imenso de saber todos estes factos curiosos acerca das origens da Amadora.
Acho este seu blog muito interessante e sempre que o visito fico com a sensação de ter aprendido alguma coisa. Parabéns!
Achei a pequena escultura de barro giríssima! E confesso que não conhecia o trabalho do mestre José Franco. Vou ficar atenta!
Muito obrigada! E um bom domingo…
Qual é a sua opinião sobre a desconfiança?
Foste desafiado. Topas?
beijo da Afrodite
(uma carinha d’anjo num corpo espectacular, com tudo no sítio, muito dentro do prazo, sem aditivos nem silicones)
É sempre bom ler-te….
Em 1976 Amadora passou a cidade, a chamada “cidade de Abril”…..
(Também é bom que não se esqueça…)
Beijo
Ah, e claro não esquecer…os meus filhotes já visitaram José Franco, há uns anitos, em Mafra…outros tempos esses…
Mais um bjinho
…e tantas vezes descalça corri pelas ervas que cresciam, entre a Estrada Militar e a linha férrea, nas pedras do antigo e eternamente Aqueduto das Águas Livres,(que felizmente teimou em ficar)…corria no meio, não dos porcos (que já não haviam :))mas no meio do rebanho de ovelhas do ti`Frederico…e como eu fugia (eu, os primos e o mano) à frente de um carneiro que teimava ser mauzinho como só visto…ciprestes, eucaliptos…muita água…uns anitos mais…e olhava os olhos do Ti´João cheios de orgulho pelas couves e alfaces que via crescer junto das arcadas do aqueduto…tudo já o tempo (aquele Velho Senhor!) levou…agora (quarenta e tal anos depois)a poucas centenas de metros, consigo olhar e ver através do betão armado a recordação que trago inteirinha nas minhas memórias de menina.Estaria aqui a tarde toda…
Um muito Obrigada
Um bom fim de semana
Um beijinho
I.
(lá do outro lado já espreitei centenas de vezes…mas a beleza é muita…´O teu poema` é outra recordação e as palavras que lá estão dizem tudo…e assim, meu coração fica mudo…e saio sempre em silêncio)
Excelente texto, que nos transporta um pouco no tempo. A escultura fantástica, só podia ser mesmo do mestre José Franco.
Bom fim de semana.
já Eça a descrevia n Os Maias quando saiem em viagem de Benfica a Sintra e param pelo caminho para almoçar na Porcalhota ….
O combóio…
Que saudades tenho da velha estação de madeira onde tantas vezes esperei….
Belo contar que despertou recordações a gentes aqui passadas. Senti ainda a finura do espírito crítico do portuguesinho nas alcunhas. Abç
Curiosas as várias hipóteses para um nome não menos curioso!
Estas histórias fazem-nos adivinhar tempos idos, recordar e aprender sempre alguma coisa sobre as nossas tradições, tanto nos usos como mesmo na língua!.
É uma bela viagem
Um abraço
A azeitona já está preta
Já se pode armar aos tordos
Diz-me lá ó cara linda
Como vais de amores novos.
Aprendo sempre com agrado todas estas coisas que trazes aqui. E também me delicio com as músicas tradicionais que tambem escolhes para aqui.
beijos
Ines
Esta história( ou as várias versões da história, qualquer delas a mais interessante) bate-me especialmente à porta,pois moro onde nesse tempo começavam as quintas, e quando para aqui vim, no fim dos anos 60, ainda toda a gente falava na Porcalhota.
Nesse tempo, fui várias vezes até Mafra mostrar ao meu filho os “bonecos” e a aldeia do Mestre José Franco.
É bom conversar sobre estas coisas, e não as deixar morrer
Era eu menininha de não saber ler, e a minha avó materna, de visita de terras de Oeste, passeava-me por entre caminhos feitos de pedra negra, aqui mesmo no sítio da porcalhota. Eram tardes imensas, marcadas a meio por um momento em que nos sentávamos num muro a comer uma maçã. Regressávamos depois, e eu via-a a cumprimentar quase todas as pessoas que se nos cruzavam… Eram lá coisas que trazia da aldeia!
Um dia – foi tão depressa! – desapareceu aquele espaço feito de quintas (onde eu ia a ver os cães, e onde, mais tarde, muito povo se abasteceu de leite em tempos de falta dele). Ali viriam a construir duas escolas, uma para o ensino preparatório e outra para o secundário. Ambas frequentei.
Que dia este!…
Assim, num instantinho, entre Folhas e Coisas, percorri uma estranha ponte que liga o local onde estou àquele onde gosto de estar.
Um abraço em ponte.
OLá 🙂
Gostei de ler e de saber a origem ou origens da “Amadora”!
São mesmo coisas do arco da velha!
Beijos estrelados
Uma magnífica descrição de uns tempos que fizeram história,assim como a síntese.
Bjs Zita