
Nos dias que correm, a publicidade é uma feiteira que – geralmente ardilosa e não raramente fraudulenta – é muito séria. Bulir naquilo com que se compram os melões é sempre, sempre, coisa mesmo muito séria. E tanto é assim que para discorrer, confeccionar e figurar a endrómina que se quer impingir é preciso um ajuntamento de doutos, mestres, ilustrados e mais sapientes. Menos do que isso não dá. E é quando dá! Mas nem sempre foi assim…
Em 1902, Manuel Ferreira, de Vila Verde, tido pelos seus próximos como pau para toda a colher (aqui tem a resposta à sua questão amiga Marcela…) mandou imprimir e distribuir o prospecto abaixo transcrito, mais tarde publicado nos Cadernos Mensais de Estatística e Informação do Vinho do Porto, em Agosto de 1944.
Em 1902, Manuel Ferreira, de Vila Verde, tido pelos seus próximos como pau para toda a colher (aqui tem a resposta à sua questão amiga Marcela…) mandou imprimir e distribuir o prospecto abaixo transcrito, mais tarde publicado nos Cadernos Mensais de Estatística e Informação do Vinho do Porto, em Agosto de 1944.
Manuel Ferreira, srurgião, rigedor e comerciante e agente de interros, Respeitosamente informa as senhoras e cavalheiros que tira dentes sem esperar um minuto apelica cataplasmas e salapismos a baixo preço e abestrai vixas a 20 réis cada garantidas. Vende pelumas e cordas, corta calos, joanetes aços partidos tusquia burros uma vez por mez e trata das unhas ao ano. Amola facas e tesoiras, apitos a 10 réis castiçais e fregideiras e outros instramentos musicais e preços muito reduzidos. Ensina gramatica e discurços de maneiras finas acim como cathecysmo e cretographia, canto e danças, jogos de sucieade e bordados. Tenho perfumes de todas as calidades.
Como os tempos vão maus, peço licença para dizer que comessei tambem a vender galinhas, lans, porcos e outra criação. Camisolas, lenssos, ratueiras, enchadas, pás, pregos, tejolos, carnes, chourissos e outras ferramentas de jardim e lavoira, cigarros, pitrol, aguardente e outros matriais inflamaveis.
Ortalaiças, frutas, lavatorios, pedras damolar, sementes e loiças e menteiga de vacca e porco. Tenho um grande curtimento de tapetes, cerveja velas e phosphoros e outras conservas como tintas, sabão, vinagre, compro e vendo trapo e ferros velhos, chumbo e latão. Ovos frescos, meus, paçaros de canto como mochos, canarios e melrros, tamém jumentos, piruns e grilos e deposito de vinhos da minha lavra. Tualhas, cobertores e todas as qualidades de roupas.
Ensino jiographia, aritemetica, jimnastica e outras chinesices.
Passa factura ou é sem IVA?…
Como os tempos vão maus, peço licença para dizer que comessei tambem a vender galinhas, lans, porcos e outra criação. Camisolas, lenssos, ratueiras, enchadas, pás, pregos, tejolos, carnes, chourissos e outras ferramentas de jardim e lavoira, cigarros, pitrol, aguardente e outros matriais inflamaveis.
Ortalaiças, frutas, lavatorios, pedras damolar, sementes e loiças e menteiga de vacca e porco. Tenho um grande curtimento de tapetes, cerveja velas e phosphoros e outras conservas como tintas, sabão, vinagre, compro e vendo trapo e ferros velhos, chumbo e latão. Ovos frescos, meus, paçaros de canto como mochos, canarios e melrros, tamém jumentos, piruns e grilos e deposito de vinhos da minha lavra. Tualhas, cobertores e todas as qualidades de roupas.
Ensino jiographia, aritemetica, jimnastica e outras chinesices.
Passa factura ou é sem IVA?…
(quem huma vez engana ao prudente, duas engana ao innocente)
séc. XVI
Obrigado pela visita, Pedro. Ainda bem que proporcionou uns lúdicos momentos.
Abraço.
jorge
Largo e, já agora,,, comprido, também!
Abraço.
jorge
Pode comprar o livro, p.ex., na Fnac, no Corte Inglês ou ainda na Leya. Mas também pode mandar-me uma mensagem e eu envio-lhe pelo correio.
Abraço.
jorge
Acho que é, de facto, um bom exemplo de pau para toda a colher, como foi pedido para explicar. Óptimo que tenha sido mote para boa disposição.
Abraço.
jorge
Dizes bem: 70 ou mais!…
Só não lhe perdoo não vender banha da cobra!
Recebido, agradecido e retribuído. O abraço.
jorge
Isso mesmo, amiga Clara: um ensarilhado de escrita antiga com erros!
Abraço.
jorge
Por aí, por aí…
Volte sempre.
Abraço, amiga.
jorge
Ovos ‘meus‘, penso que se estava a referir à propriedade. Só! Penso eu…
Isso mesmo, amiga, uma relíquia.
Abraço.
jorge
Vai-se a ver, seria ele o autor do livro ‘Como escrever cartas de amor‘?…
Abraço
jorge
Adorei Jorge. Claro está que o sorriso esteve sempre na face enquanto ia passeando pelos texto. Engraçado, repeti a leitura para assimlar o gozo que o texto transmite.
Um panfletário no seu mais largo sentido publicitário. Um mimo.
Abraço.
Todo o texto do panfleto é uma pérola de humor e melhor ainda com o sabor da escrita e dos erros da época. Uma maravilha este seu apanhado, Jorge.
Como reparo que responde a todos os comentários feitos aqui, queria perguntar-lhe onde posso comprar o livro, procurei por aqui em Coimbra e não encontrei. Obrigado.
Mais uma vez grata pelas suas Coisas do Arco da Velha.
beijo
O verdadeiro pau para toda a colher, realmente!
O que me ri e uns neuróniozitos chamuscados para decifrar este desacordo na ortografia… 🙂
Grata por este pedaço de boa disposição!
Um grande abraço.
Este não é o homem dos 7 ofícios, é o dos 70 pelo menos! Adorei o acordo ortográfico que utilizaste!!!!
Um abraço, esperando ser recebido
Um exemplar perfeito do homem dos sete ofícios além se ser um texto carregado de humor. Também interessante tentar perceber o que é escrita da época e o que é erro do senhor Ferreira. Um interessante post, amigo Jorge.
Abraço.
Estava mesmo a precisar de me rir! Está o máximo! Gostava era de saber onde é que o amigo Jorge vai desencantar estes “mimos”!…
Abraço
ahahahahah
Ainda estou… sem ar!
Isto é uma “berdadeira” relíquia!!
De tudo o que ele descreve detive-me uns instantes a tentar compreender este excerto:
« (…) Ovos frescos, meus, (…) » ?
Muito bom!
Obrigada por este texto fantástico que merece ser lido por mais do que uma vez.
Beijinhos e bom fim de semana
(^^)
Ah grande Manuel Ferreira!. Completo!
Tratava da vida e da morte e de tudo que lhe fica pelo meio, até bordados
Será que também escrevia cartas de amor?
Excelente dose de boa disposição, este teu post
Um abraço