São razões sem qualquer peso ou validade, de gente que se furta aos deveres quando necessário. Encontramos esta expressão, neste contexto, no Auto das Fadas, de Gil Vicente que, ainda acrescenta outra acepção, a de razões versáteis ou inconstantes, como as do galo do cata-vento da torre da igreja: Esta cabeça de vento, siso de cacaracá. O Dr. Castro Lopes, esmerado e singular pesquisador desta matéria, sobre esta sentença diz ter encontrado uma deliciosa e lépida história, que a conta assim:
‘Litigavam dois sujeitos: um roceiro, e outro cidadão. O juiz, que tinha de julgar o pleito, era amigo do roceiro, autor na causa. As relações de amizade, e a justiça que presumia ter na demanda, davam ao roceiro fundadas esperanças de alcançar sentença favorável. Estava próxima uma das festas notáveis do ano; tempo em que é costume presentear os amigos: foi o que fez o roceiro, mandando ao magistrado seu amigo uma capoeira de galinhas. O réu não se descuidava: e além de ter posto em contribuição todos os personagens que pudessem exercer influência sobre o juiz, juntou aos autos com as razões finais, documentos de um valor tal, que só por si eram mais eloquentes do que quantos argumentos pudesse o mais abalizado jurisconsulto apresentar.
Decidido o pleito, teve o roceiro sentença contra. Fulminado por esse raio da justiça humana veio triste e queixoso ter com o juiz, manifestando a dor, que lhe produzia tão violento golpe.
Consolou-o o juiz, e, tanto quanto pôde, buscou atenuar a mágoa do roceiro, terminando por dizer:
– Mas por que não procurou um advogado melhor, um patrono, que mais habilmente soubesse defender o seu direito?
– Porém, meu amigo, as razões que apresentei, não podiam ser melhores.
– Está enganado; o seu adversário aduziu provas de valor, documentos valiosíssimos; entretanto que o meu amigo só apresentou razões…
– Razões muito fortes.
– Não há tal; as suas razões… as suas razões… foram só… razões de cacaracá.
E o magistrado pronunciou a última palavra imitando o cacarejar das galinhas.’

Bonita a foto, parece que as galinhas se alindaram para a imagem.. Há por aí muita gente a cantar de galo, que nem para cabidela servem. Um abraço. Boa semana.
Votos de um óptimo fim-de-semana
Bjs Zita
Sendo o Gil Vicente um dos grandes mestres de toda a história portuguesa,e seguindo a linha de mestria dele estas galinhas fazem-me lembrar as “Tias do chá das cinco” no curso de corte costura
Um encanto o teu contar mistérios de onde vais buscar tais coisas!…
Bom fim de semana
Bjs Zita
E muitas vezes seria bom se a conversa mais fosse de cacaracá…mas a foto está espectacular, parecem uma Marias de varanda.
Beijinhos.
bom, e que há tantos a fazer conversa de cacaracá e a não saberem…
Olá!
cabeça de vento» conhecia, esta não. É sempre um prazer o que por aqui se lê.
Ola, vim visitar-te. Fiquei apaixonada pela imagem das galinhas!
Deixo-te um doce bjinho,
Papoila Sonhadora,
É sempre um prazer renovado ler-te.
Um abraço e boas férias!
ai! os cocorocós destes cacaracás dão-me cabo da cabeça quando vou de férias…
começam com as galinhas…
então boa viagem nestes 10 próximos dias… espero que não encontre cocorocós madrugadores (se para ti forem indesejáveis).
deixo-te abraços
Lá que as galinhas estão na conversa, eu não tenho duvidas. Mas que estarão a dizer?
Abraço
E há para aí tantos galos(e galinhas) de cata-vento!…
Mas fiquemo-nos com estórias de cacaracá, pois se não ensinarem nada, pelo menos fazem rir!
Salve-se o riso que acciona tantos músculos e arrima alegria!…
Abraço
Maria Mamede
adOro
cata.VentOs.
são poéticos…
e sem aparente razão é bela a sua
missãO: a dança ao som da brisa!!
beijO
Bem sugestiva, a imagem do cacaracá, é que as galinhas parecem mesmo à conversa sem nada ter para dizer…
Abraço e até breve