
O jantar romano foi, quase sempre, frugal, e à sexta hora do dia (o nosso meio-dia). A ceia, da nona à décima hora, era geralmente dividida em três serviços distintos. No intervalo de cada um, especialmente entre o segundo e o terceiro, o dono da casa distribuía os seus presentes. A dada altura, o hábito, de modo a que não fosse melindrar qualquer dos convivas, tornou-se uma distribuição do acaso: escolhiam-se as oferendas e, agrupadas em lotes que numeravam, tirava-se à sorte o contemplado por cada um.
Os imperadores, nos banquetes, também distribuíam as suas lotarias. Heliogábalo, entre outros, comprazia-se a compor, pessoalmente, os lotes que iria sortear nos banquetes: parelhas de cavalos, libras (peso) de ouro, sedas, chumbo, pavões, eram elementos vulgares nos lotes dos festins romanos.
Para com o povo, as lotarias eram consideradas munificências dos imperadores: estes, quando queriam gratificar o povo, atiravam dinheiro para a multidão, ou pequenas esferas sobre as quais era inscrito um número alusivo a um lote que poderiam resgatar no palácio. Os que as apanhavam, apresentavam-se no dia seguinte na anunciada dependência do palácio onde iam receber os lotes, às vezes compostos por títulos de doação de propriedades.
Os jogos de Nero, por exemplo, terminavam sempre com lotarias: lotes de trigo, vinho, ouro, prata, pedras preciosas, quadros, escravos, cavalos, barcos, casas, terras, eram coisas comuns nos lotes, largamente referenciadas na época.
Os romanos levaram os lotes, as lotarias a todos os cantos do seu império. E, os outros povos, assimilaram o uso, adaptaram-no, converteram-no e preservaram-no ao longo dos séculos.
Daí surgiu a rifa, o sorteio, o bicho, o vigésimo, a tômbola, a roda, o bingo, o fura, a lotaria, o totobola, o totoloto, euromilhões e a raspadinha.
Mas não é a mesma coisa!…
(Uns comem os figos, a outros rebenta-lhes os beiços)