Um literato, que ficou anónimo, querendo elogiar, de forma singular, a importância do Duque de Wellington na defesa portuguesa aquando das invasões napoleónicas, escreveu-lhe esta carta, composta quase exclusivamente de anexins próprios da Língua Portuguesa, e de uso comum na época, fingindo ser escrita pelos habitantes do Vimeiro:
Illmõ. e Exmõ. Senhor,
Depois que V. Exª fez ir de escantilhão para França o fanfarrão Junot, tendo-o posto em papos d’aranha nos Campos do Vimeiro; depois que V. Exª fez sahir com vento de baixo ao ladino Soult da Cidade do Porto, fazendo vispere, e com as calças na mão para Castella; depois que V. Exª disse ao zanaga Massena, alto lá Senhor Sam Macário; e jogando o jogo dos sisudos lhe mostrou as linhas com que se cosia,
fazendo-o dar às trancas, e apanhar pés de burro, por ter dado com as ventas n’um sedeiro; depois que V. Exª fez ir de catrâmbias a Berrier da Cidade de Rodrigo, e ao Caxolla Philippon limpar as mãos à parede em Badajoz, como quem diz, faça que me não vio; e tendo estado tem-te Maria que não caias: despois finalmente que V. Exª nos Campos de Arapilles, zás, pás, catrapáz nó cego, desazou o Macambuzio Marmont, e o obrigou a cantar a sua derrota pé à pá Santa Justa, tim tim por tim tim; foi então Exmô Sr., que nós os pés de boi, Portugueses velhos, dissemos: Este não é General de cacaracá, tem amoras, não faz cancaburruradas e não deixa fazer o ninho atraz da orelha; e como prudente accommette humas vezes, e outras põe-se de conserva; agora podemos dormir a sonno solto; o nosso medo está nas malvas; a vinda do inimigo será no dia de Sam Nunca à tarde; por tanto só resta agradecer a V. Exª a visita, que nos faz, que desejamos que não seja de Médico, nem com o pé no estribo; devendo saber V. Exª que estes desejos não são embófias, nem parolas que leve o vento; mas sim ingénuos votos de corações agradecidos, e leais, sobre os quais tem V. Exª erguido com tanta justiça hum Trono de Amor e Respeito.
De V. Exª.
&ª
Diz, na época, o relator da missiva, que o Lord inglês mui apreciou a missiva…
Depois que V. Exª fez ir de escantilhão para França o fanfarrão Junot, tendo-o posto em papos d’aranha nos Campos do Vimeiro; depois que V. Exª fez sahir com vento de baixo ao ladino Soult da Cidade do Porto, fazendo vispere, e com as calças na mão para Castella; depois que V. Exª disse ao zanaga Massena, alto lá Senhor Sam Macário; e jogando o jogo dos sisudos lhe mostrou as linhas com que se cosia,

De V. Exª.
&ª
Diz, na época, o relator da missiva, que o Lord inglês mui apreciou a missiva…

Largos minutos a pensar neste achado delicioso. Se o Inglês percebeu ou não a missiva, ficamos a pensar que aqui foi apenas diplomacia. Há poucas semanas passei em Freineda perto de Vilar Formoso e visitei uma casa, estavam vários Ingleses em visita, onde Wellington fazia o seu quartel General. Pelo menos, muito interessante. Parabéns e um abraço.
Pedro Soares
Pois, têm fama disso, têm…
Abraço.
jorge
Se percebeu, sim!
De facto está muito bem elaborada.
Abraço.
jorge
Quem sabe?! Talvez sim, talvez tivesse passado largas horas, na Estrela, a ver quando chegava a frota de Inglaterra…
Abraço.
jorge
Também acho que não percebeu patavina, mas enfim, fleuma…
Abraço.
jorge
É verdade, sim. Era uma frase muito comum, na época.
Abraço.
jorge
O que mostra que o inglês era bom em diplomacia. 🙂
Está uma maravilha!
Um beijo de agradecer.
Pois se apreciou, mostrou ser homem de bom gosto, cultíssimo e a dominar a língua portuguesa como poucos lusos!!
A carta está supimpa!
Um abraço
Como já aqui foi dito o Duque não devia ter percebido nada mesmo. Fou mesmo a ver navios, não achas?
Beijo.
O inglês apreciou a missiva? Devia ter percebido muito!
Grande abraço.
Cá está o P… á… pá Santa Justa de que falou em Dezembro passado. Muito bem.
Beijo.